segunda-feira, 31 de março de 2014

Exus de Madrid: Pombagira Reina

Detalhe de oferenda a Pombagira Reina.
Instalação/intervenção em espaço público.
Leopoldo Tauffenbach. Madrid, 2014.

A Espanha é um país regido por uma monarquia e Madrid é a sede do reino, onde se encontra o Palácio Real, residência do rei e da rainha da Espanha. Em um breve passeio pela cidade é possível verificar aspectos moldados ao longo de séculos de monarquia. A ideia de realeza está por todos os lugares, seja dos feitos e obras de reis e rainhas, aos nomes que os evocam, passando pelos muitos monumentos que se apresentam.

Além disso, a cidade de Madrid guarda alguns dos museus mais importantes do mundo. E entre eles está o Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, mundialmente conhecido - entre outras coisas - por abrigar o quadro "Guernica", de Pablo Picasso, e cujo nome presta homenagem à atual rainha da Espanha. 

Neste ambiente em que a todo o tempo ecoam signos de realeza, parece óbvia a existência de uma pombagira alinhada a estes princípios e signos, que convenientemente se chamaria de Pombagira Reina; uma entidade cuja atenção se voltaria às posições sociais e aos aspectos materiais, evocando fartura e abundância. E vê-se o Centro de Arte Reina Sofia como o lugar mais apropriado para uma entrega em homenagem a esta entidade.

Oferenda a Pombagira Reina.
Instalação/intervenção em espaço público.
Leopoldo Tauffenbach. Madrid, 2014.

Mais uma vez, a oferenda foi pensada a partir das necessidades de uma entidade que teria surgido na Espanha e a oferta local de produtos. Uma típica oferenda a uma pombagira, no Brasil, em geral há predominância da cor vermelha, além de trazer flores e bebida como sidra ou espumante. Recomenda-se também que as oferendas às pombagiras sejam realizadas em encruzilhadas em forma de "T".

Detalhe de oferenda a Pombagira Reina.
Instalação/intervenção em espaço público.
Leopoldo Tauffenbach. Madrid, 2014.

A oferenda foi montada na porta principal do museu, na Calle de Santa Isabel, em um trecho em que a rua forma um "T". Ali, sob um manto vermelho e outro com detalhes dourados bordados, foram colocadas rosas vermelhas com uma pequena coroa feminina por cima. Para a bebida ritual, foi escolhida a cava, típico espumante produzido na Espanha. O arranjo se completa pela distribuição de nove velas vermelhas e nove taças, agrupados em grupos de três, ao redor da oferenda. 

Detalhe de oferenda a Pombagira Reina.
Instalação/intervenção em espaço público.
Leopoldo Tauffenbach. Madrid, 2014.
Oferenda a Pombagira Reina.
Instalação/intervenção em espaço público.
Leopoldo Tauffenbach. Madrid, 2014.
Detalhe de oferenda a Pombagira Reina.
Instalação/intervenção em espaço público.
Leopoldo Tauffenbach. Madrid, 2014.
Detalhe de oferenda a Pombagira Reina.
Instalação/intervenção em espaço público.
Leopoldo Tauffenbach. Madrid, 2014.
Oferenda a Pombagira Reina.
Instalação/intervenção em espaço público.
Leopoldo Tauffenbach. Madrid, 2014.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Exus de Madrid: Ebó à espanhola

Oferenda a exu espanhol.
Instalação/intervenção em espaço público.
Leopoldo Tauffenbach. Madrid, 2014.

Ao propor a ideia de construir, poeticamente, um conjunto de exus que se originariam em outra terra - neste caso a Espanha - o projeto "Exus de Madrid" de Leopoldo Tauffenbach começa com uma série de questões. A primeira delas indaga como seria um ebó de um típico exu espanhol.

Existem duas coisas que formam parte fundamental da cultura culinária espanhola: o vinho e as tapas. As tapas (tampas) são aperitivos que são servidos com o vinho que é pedido nos bares. São muitas as histórias a respeito da origem de tal hábito, mas parece haver um certo consenso de que a palavra refere-se ao hábito de tampar a taça de vinho com a comida no momento de servir. As tapas são, em geral, fatias de pão com complementos variados, como embutidos, queijos ou conservas. Podemos então dizer que seria acertado oferecer vinho e tapas em um ebó à espanhola.

Observando-se a preferência dos exus por comidas fortes e a predominância da cor vermelha, para esta oferenda decidiu-se fazer tapas de pimentão vermelho com molho de tomate e páprica picante. O vinho escolhido chama-se Puerta de Hierro, extremamente adequado pelo desenho simples da garrafa, composto somente pelas cores negro, vermelho e branco, e quando se lembra que a letra de um famoso ponto cantado de exu diz: "portão de ferro, cadeado de madeira".

Oferenda a exu espanhol: tapas de pimentão com azeite, tomate e páprica.
Leopoldo Tauffenbach. Madrid, 2014.

Vinho escolhido para oferenda a exu espanhol.
Leopoldo Tauffenbach. Madrid, 2014.

A oferenda foi colocada em um nicho em um prédio localizado na Calle San Ildefonso, no centro de Madrid, que recebeu uma intervenção de uma estrutura de papelão pintado com motivos que remetem à entidade.Abaixo seguem fotos do registro da ação. Clique sobre as imagens para vê-las em tamanho ampliado.

Oferenda a exu espanhol.
Instalação/intervenção em espaço público.
Leopoldo Tauffenbach. Madrid, 2014.

Detalhe de oferenda a exu espanhol.
Instalação/intervenção em espaço público.
Leopoldo Tauffenbach. Madrid, 2014.

Detalhe de oferenda a exu espanhol.
Instalação/intervenção em espaço público.
Leopoldo Tauffenbach. Madrid, 2014.

Detalhe de oferenda a exu espanhol.
Instalação/intervenção em espaço público.
Leopoldo Tauffenbach. Madrid, 2014.

Oferenda a exu espanhol.
Instalação/intervenção em espaço público.
Leopoldo Tauffenbach. Madrid, 2014.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Exus de Madrid

Detalhe de intervenção do projeto "Exus de Madrid",
de Leopoldo Tauffenbach. 2014.

No Brasil, a tradição da umbanda toma os exus a partir de uma perspectiva que muito se baseia no espiritismo de Allan Kardec. Assim, exus são espíritos de pessoas que passaram por uma vida terrena e agora habitam outro plano de existência onde, sob uma nova forma e atendendo sob um novo nome, integram um panteão de entidades sobrenaturais com funções específicas, áreas de atuação mais ou menos definidas e capacidade de interferência no universo dos vivos.

Diferente dos orixás cujas histórias e origens remetem a tempos imemoriais anteriores à criação dos homens, os exus da umbanda viveram em épocas e locais bem definidos e identificáveis. Ao contrários das divindades que "sempre existiram", os exus de umbanda surgem em um determinado momento que supõe um tempo passado sem a existência deles. Um exemplo é o exu Zé Pelintra, que incorpora os atributos do malandro urbano que só veio a surgir no início do século XX, o que se evidencia por sua iconografia: o traje social branco e o chapéu panamá. E nem todos os exus cultuados no Brasil são necessariamente brasileiros. A história do exu Tatá Caveira conta que em sua última encarnação vivera no Egito, sob o nome Próculo. Outras entidades, como exu 7 Estradas, exu Corcunda, exu 7 da Lira, pombagira Maria Padilha e muitos exus da linha dos ciganos têm em comum o fato de terem vivido na Espanha medieval.

Detalhe de intervenção do projeto "Exus de Madrid",
de Leopoldo Tauffenbach. 2014.

"Exus de Madrid" é o título do projeto criado por Leopoldo Tauffenbach que trata, de modo poético, da criação um panteão de exus que habitariam a cidade de Madrid, na Espanha. Estas entidades são imaginadas a partir do olhar estrangeiro sobre a cidade e questionamentos a respeito da dinâmica da urbe - o local de atuação dos exus - e suas dinâmicas sobre os habitantes. Que exus poderiam atuar em Madrid? Como eles seriam e quais as suas histórias? Em que locais da cidade eles se encontrariam?

Inicialmente, o projeto prevê a elaboração de instalações/intervenções poéticas em espaços públicos de Madrid, semelhantes a oferendas adequadas às possíveis entidades que ali viveriam. O trabalho terá cinco meses de duração e parte de um projeto desenvolvido dentro da Universidad Complutense de Madrid ao final do ano de 2013. Cada nova etapa deste trabalho será documentada e publicada no blog Reconstruindo Exu.

Detalhe de intervenção do projeto "Exus de Madrid",
de Leopoldo Tauffenbach. 2014.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Exu no Carnaval

Passista representando Exu em desfile da escola de samba
Mancha Verde, durante o carnaval de 2012.
Não se pode sair às ruas, principalmente no Carnaval, sem pedir proteção a Exu. Neste período, Exu está em total liberdade de suas funções. Portanto se você vai sair para brincar carnaval não se esqueça de Exu. Agrade-o para que você se livre de coisas ruins.
Banho para proteção de carnaval:
Manjericão e saião. Macere (esfregue) em um balde com água limpa, coe e jogue da cabeça aos pés.
Oferenda para proteção:
Quando sair para rua, leve 7 moedas, 1 cebola e 1 carretel de linha vermelha. Numa encruzilhada, parta a cebola em quatro partes e arrie no canto. Passe as moedas pela cabeça e coloque em volta da cebola. Pegue o carretel de linha e desenrole por cima da cebola, pedindo a Exu que desenrole toda negatividade do seu caminho e lhe dê proteção.

Trecho de texto de Pai Paulo de Oxalá, publicado no jornal Extra, em fevereiro de 2012. Disponível em: <http://extra.globo.com/noticias/religiao-e-fe/pai-paulo-de-oxala/nao-esqueca-de-exu-no-carnaval-3995838.html>.


Modelo representando Pombagira em desfile da escola de samba
Mancha Verde, durante o carnaval de 2012.
http://carnaval.uol.com.br/2012/album/2012/02/18/mancha-verde-desfila-no-primeiro-dia-do-carnaval-2012-em-sao-paulo.htm
Passistas de ala em homenagem a Exu, em desfile da escola de samba
Mancha Verde, durante o carnaval de 2012.
http://g1.globo.com/sao-paulo/carnaval/2012/fotos/2012/02/veja-fotos-do-desfile-da-mancha-verde.html
Sob os primeiros raios de sol do sábado, às 6h50, sob a bênção do mensageiro do axé, a Mancha Verde emocionada fechou a primeira noite de desfiles do carnaval paulistano deste ano em cortejo real. A agremiação, que tem origem na tradicional torcida organizada do Palmeiras, desfila ao compasso de tambores com a história de Odú Obará, um dos príncipes do candomblé. Com o enredo "Pelas mãos do mensageiro do axé, a lição de Odú Obará: a humildade", a escola de samba levará para a passarela paulista a história do jogo de búzios, representado por meio da divindade identificada com a humildade, paciência e simplicidade. 

Trecho de matéria de Gustavo Uribe, publicada em fevereiro de 2012, no jornal Estado de São Paulo. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/geral,carnaval-2012-mancha-fecha-festa-em-ritmo-do-candomble,837573,0.htm>. 


Comissão de frente da escola Império da Tijuca.
http://carnaval.uol.com.br/2014/rio-de-janeiro/noticias/2014/03/02/imperio-da-tijuca-abre-o-1-dia-de-desfiles-do-grupo-especial-do-rio.htm
Comissão de frente da escola Império da Tijuca.
http://carnaval.uol.com.br/2014/rio-de-janeiro/noticias/2014/03/02/imperio-da-tijuca-abre-o-1-dia-de-desfiles-do-grupo-especial-do-rio.htm
Comissão de frente da escola Império da Tijuca.
http://www.carnavalesco.com.br/detal.php?id=7812
Após 18 anos no Grupo de Acesso, a Império da Tijuca abriu os desfiles do Grupo Especial do Rio neste domingo (2) com uma apresentação confiante e alegre. A escola falou das raízes africanas da batucada brasileira com o enredo "Batuk", do carnavalesco Júnior Pernambucano. [...] A comissão de frente apostou numa dança africana bem coreografada em volta do orixá Exu, em um grupo que era seguido por três casulos em forma de bambus. Em frente aos jurados, os casulos eram abertos e deles saíam integrantes fantasiados como os quatro elementos: água, ar, fogo e terra. 
Trecho da matéria "Império da Tijuca volta confiante ao Grupo Especial mostrando batuque", do portal UOL, publicada em março de 2014. Disponível em: <http://carnaval.uol.com.br/2014/rio-de-janeiro/noticias/2014/03/02/imperio-da-tijuca-abre-o-1-dia-de-desfiles-do-grupo-especial-do-rio.htm>.


Reprodução de matéria falando do exu Seu Sete da Lira,
entidade incorporada pela médium Cacilda de Assis, e sua
participação no carnaval carioca. Publicação e data ignoradas.
Imagem da médium Cacilda de Assis, incorporando o exu
Seu Sete da Lira, em um festejo de carnaval. Data e autoria desconhecidas.
Imagem da médium Cacilda de Assis, incorporando o exu
Seu Sete da Lira, em um festejo de carnaval. Data e autoria desconhecidas.

O carnaval e Seu Sete da Lira interagiam de maneira harmônica e com grande beleza ritualística no correr de suas giras tendo como pano de fundo além das consagradas marchinhas, sambas-enredos que estivessem na boca do povo. O Rei da Lira se utilizava de músicas em geral que estivessem sendo sucesso, pois isto representava um grande axé e portanto um canal invisível mas de grande poder para as curas, proteção e abertura de caminhos dos fieis da Lira.
Quando o famoso Guardião ainda podia sair as ruas sem ser reconhecido, ele foi visto em alguns blocos de carnaval como o Cordão do Bola Preta e também comandando seus próprios blocos como o Carijós e o bloco 7 da Lira, causando como sempre grande curiosidade dos transeuntes e foliões que preplexos com um Exu incorporado pulando carnaval em plena Av. Rio Branco no centro do Rio também caíam na folia. O que para alguns pudesse parecer sui generis uma entidade em pleno carnaval, para Seu Sete da Lira o evento era parte firme dos seus trabalhos e depois confirmados em seu jogo. O conhecido Exu foi homenageado por diversas Escolas de Samba do Rio de Janeiro, como G.R.E.S. Acadêmicos do Engenho da Rainha, G.R.E.S. Tupi de Brás de Pina, além do Bloco vizinho de seu Terreiro o Unidos do Lameirão, este por duas vezes.


Trecho de texto retirado de página na rede social Facebook, dedicada ao exu Seu Sete da Lira. Disponível em: <https://www.facebook.com/media/set/?set=a.604315026309537.1073741896.262206377187072&type=1>.


Integrante do bloco Ilu Oba De Min como Exu.
http://veja.abril.com.br/multimidia/galeria-fotos/bloco-afro-ilu-oba-de-min-2012
O Bloco Afro Ilú Oba De Min é um bloco composto exclusivamente por mulheres e desde 2005 sai às ruas de São Paulo celebrando a cultura afro-brasileira e destacando a participação das mulheres no mundo. Ilú Oba de Min foi fundado pelas percussionistas Beth Beli e Adriana Aragão. Não nasceu dentro de um terreiro (como os afoxés) porém trabalha com fundamento nas questões do povo de santo e no culto aos Orixás: Deuses Africanos. O Ilú surge também a partir do momento que a diretora do bloco, Beth Beli, incentiva a ampliação do discurso sobre a participação feminina no ato de tocar o tambor. Mesmo dentro do Candomblé as mulheres não têm permissão para tocar tambor. Então, Beth se inspirou em outras tradições africanas nos rituais que ocorrem na Nigéria, por exemplo, onde as mulheres podem, sim, tocar o tambor.

Trecho de matéria de Mafalda Pequenino, "O Bloco Afro Ilú Oba De Min e a diversidade cultural no carnaval de São Paulo", publicada no portal GGN, em março de 2014. Disponível em: <http://jornalggn.com.br/noticia/o-bloco-afro-ilu-oba-de-min-e-a-diversidade-cultural-no-carnaval-de-sao-paulo>.





segunda-feira, 3 de março de 2014

Exu e o diabo

"Exu 7 Garfos" - Leopoldo Tauffenbach (2013).
A foto exemplifica a adoção da icononografia do
diabo cristão à imagem dos exus da umbanda.

Com o avanço das concepções cristãs sobre a religião dos orixás [...] Exu foi cada vez mais empurrado para o lado do mal, cada vez mais obrigado, pelos seus próprios seguidores sincréticos, a desempenhar o papel do demônio.
[...]
Seguindo o modelo católico, no qual se espelhava, a umbanda foi obrigada a ter em conta os dois lados: o do bem e o do mal. Incorporou a noção católica de mal, mas não se dispôs a combatê-lo necessariamente, nunca se cristianizou completamente. Formalmente, a umbanda afirma que só trabalha para o bem, mas dissimuladamente criou, desde o momento de sua formação, uma espécie de segunda personalidade [...].
Esse território que a umbanda chamou de quimbanda, para demarcar fronteiras que a ela interessava defender para manter sua imagem de religião do bem, passou a ser o domínio de Exu, agora sim definitivamente transfigurado no diabo, aquele que tudo pode, inclusive fazer o mal. [...] Assim, enquanto o demonizado Exu faz contraponto com os "santificados" orixás e espíritos guias, a quimbanda funciona como uma espécie de negação ética da umbanda, ambas resultantes de um mesmo processo histórico de cristianização da religião africana. Como quem esconde o diabo, a umbanda escondeu Exu na quimbanda, pelo menos durante seu primeiro meio século de existência, para assim, longe da curiosidade pública, poder com ele livremente operar. Não faltou, entre os primeiros consolidadores da doutrina umbandista, quem se desse ao trabalho de identificar, para cada uma das inúmeras qualidades e invocações de Exu, um dos conhecidos nomes dos demônios que povoam a imaginação e as escrituras dos judeus e cristãos. 

Trecho do artigo Exu, de mensageiro a diabo. Sincretismo católico e demonização do orixá Exu, de Reginaldo Prandi. Revista USP nº50. São Paulo: USP, 2001. Disponível em <http://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/35275/37995>.