quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Exu e a malandragem

"Exu" - obra de Kboco, circa 2002.
Para nossa cultura, a instauração da incerteza causa a insegurança que é associada à fragilidade. Na realidade, a ordem, a certeza, parece que nos trazem a segurança, a estabilidade. Sendo assim, quando nos deparamos com um símbolo como Exu, que carrega consigo a ambiguidade, a constante presença de ruídos, a desestabilidade e a presença de uma fraqueza da consciência, que o remete ao horizonte da loucura, percebemos o quanto ele desconcerta o pensamento que está relacionado à ordem e a uma verdade única.
[...]
Podemos então, em uma analogia, pensar que o compadre e as pombagiras também fazem parte do caráter do povo brasileiro. Detentores da ginga, do malemolejo ao falar, do jogo de cintura, essas entidades encantam os que as procuram por transitarem entre a ordem estabelecida e as condutas transgressivas.
E se a transgressão passou a ser um elemento constituinte da identidade de alguns grupos sociais no Brasil, quando os compadres e pombagiras despontam, há uma identificação de parte do povo com essa marginália sobrevivente e admirada por ser vitoriosa na luta pela vida.

Trechos retirados do artigo Quem não tem governo nem nunca terá: Exu e o jeitinho brasileiro, de Ivete Miranda Previtalli. Revista Verve, n.16. São Paulo: PUCSP, 2009.

Nenhum comentário:

Postar um comentário