segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Exu e o Ano Novo


O projeto Recostruindo Exu deseja a todos os seus leitores, colaboradores e apoiadores um excelente 2014, com todas as proteções de Exu!

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Negação de Exu

O neopentecostalismo, em conseqüência da crença de que é preciso eliminar a presença e a ação do demônio no mundo, tem como característica classificar as outras denominações religiosas como pouco engajadas nessa batalha, ou até mesmo como espaços privilegiados da ação dos demônios, os quais se "disfarçariam" em divindades cultuadas nesses sistemas. É o caso, sobretudo, das religiões afro-brasileiras, cujos deuses, principalmente os exus e as pombagiras, são vistos como manifestações dos demônios. [...]

Insuflados por essa crença, os membros das igrejas neopentecostais muitas vezes invadem terreiros visando destruir altares, quebrar imagens e "exorcizar" seus freqüentadores, o que geralmente termina em agressão física. No Rio de Janeiro, umbandistas do Centro Espírita Irmãos Frei da Luz foram agredidos com pedradas pelos freqüentadores de uma IURD situada ao lado deste Centro, na Abolição. Uma adepta da Tenda Espírita Antônio de Angola, no bairro do Irajá, foi mantida, por dois dias, em cárcere privado em uma igreja evangélica em Duque de Caxias, com o objetivo de renunciar à sua crença e converter-se ao evangelismo. [...]

No interior das igrejas neopentecostais são freqüentes as sessões de exorcismo (ou "descarrego", conforme denominação da Igreja Universal do Reino de Deus – IURD) dessas entidades, que são chamadas a incorporar para em seguida serem desqualificadas e expulsas como forma de libertação espiritual do fiel. [...] São comuns nesses programas os testemunhos de conversão dados por pessoas que se apresentam como antigos freqüentadores de terreiros, são entrevistados pelo pastor e "confessam" os malefícios que teriam sido feitos com a ajuda das entidades afro-brasileiras (chamadas de "encostos"). Os testemunhos mais explorados são os dos que se apresentam como ex-sacerdotes das religiões afro-brasileiras, chamados de "ex-pais-de-encosto", que explicam detalhadamente como faziam os despachos e sua intenção malévola.

Trechos do artigo Neopentecostalismo e religiões afro-brasileiras: Significados do ataque aos símbolos da herança religiosa africana no Brasil contemporâneo, de Vagner Gonçalves da Silva. Mana. Rio de Janeiro, vol.13, no.1, Abril de 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93132007000100008&lng=en&nrm=iso>.

Abaixo imagens da série Broken Faith/Aterro da Fé, de Iam Godoy. As fotos registram artigos oriundos de um terreiro de umbanda na zona sul de São Paulo que foram abandonados e queimados em um terreno baldio por pais-de-santo, agora convertidos ao neopentecostalismo.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Exu e a locomoção

Para estar em toda a parte do Universo, Exu é dotado de uma rapidez espantosa, podendo se locomover de uma parte a outra em uma fração de tempo inimaginável. Assim, esse Orixá passou a ser dotado também do poder e o controle da locomoção, da velocidade. E, concomitantemente, mensageiro do Criador, Imolês e Orixás.


Na umbanda, os diversos exus são divididos em falanges, ou linhas, que as classificam a partir de sua área de atuação. Desses domínios há a linha das encruzilhadas e das estradas, o qual fazem parte entidades como Exu 7 Estradas, Exu Capa Preta da Encruzilhada, Exu 7 Caminhos, Exu Tranca Rua. Estes exus se responsabilizam pelo fluxo das coisas e cuidam para que tudo chegue - ou não - ao seu destino. Assim, o automóvel, criação humana que otimiza a locomoção, não só relaciona-se com Exu, mas torna-se seu legítimo instrumento, na medida que encurta as distâncias e proporciona maior eficiência no transporte.

http://www.vice.com/pt_br/read/trabalho-de-domingo-hora-extra


http://www.vice.com/pt_br/read/trabalho-de-domingo-hora-extra

http://www.nozesnafrita.net.br/


http://www.paimaneco.org.br/textos/experiencia-bacana
 
Registro enviado por Maria José Spiteri.
Registro enviado por Luciano Alarkon.


Registro enviado por Drey Martiliano.

Registro enviado por Maria José Spiteri.




segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Iconologia do ebó - parte 7

Série de postagens explorando a iconografia dos ebós apresentados na instalação "Reconstruindo Exu".

Foto de Danilo Menezes.

1- História
A história de Exu no Brasil se inicia com a vinda dos primeiros escravos para cá, trazidos à força pelos colonizadores portugueses. Tragicamente a presença de Exu nessas terras (assim como a de todos os outros orixás) teve como custo o sacrifício de milhões de africanos. Aqui, as penas arrancadas remetem aos africanos cujas vidas foram deliberadamente ceifadas pelos portugueses.


Foto de Danilo Menezes.

1- Sacrifício
Sendo personificações de forças da natureza, todos os orixás estão intimamente associados a elementos de origem mineral, vegetal e animal. Cada entidade possui um animal litúrgico, por exemplo, não raro o mesmo que é oferecido em sacrifício diante da necessidade ritual. Exu possui dois animais litúrgicos: o galo e o bode. Coincidentemente, o galo também é um animal associado à cultura portuguesa na figura do Galo de Barcelos. E aqui se mostra o contraste gritante entre as diferentes visões do mesmo símbolo: sacrificador em nome da soberania de uma cultura e sacrificado por não pertencer a esta cultura.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Iconologia do ebó - parte 6

Série de postagens explorando a iconografia dos ebós apresentados na instalação "Reconstruindo Exu".

Foto de Danilo Menezes.

1- Arte e criatividade
Sendo uma entidade em íntima conexão com a sexualidade, Exu naturalmente está ligado também aos atos criativos e artísticos. Tanto é que existe uma falange de exus na umbanda que se ocupam da música e da dança, por exemplo. Aqui, a imagem de Exu Capa Preta da Encruzilhada evoca a imagem de Zé do Caixão, personagem criado pelo cineasta José Mojica Marins, em um alguidar ornado por um rolo de película cinematográfica de 8mm e sua respectiva lata ao fundo.

Foto de Danilo Menezes.

2- Oferenda
O marafo é a bebida que se põe a Exu quando se realiza uma oferenda. Sinônimo de cachaça em certas regiões do país, batizou a aguardente que levava o nome do personagem de Mojica. Segundo o diretor, em entrevista ao site Futepoca, a cachaça teve uma curta vida no mercado devido à ganância dos produtores que passaram a fabricar uma bebida de baixíssima qualidade após o sucesso de vendas das primeiras unidades. Para a exposição da obra "Reconstruindo Exu" o rótulo da bebida foi reproduzido e colado em garrafas que foram preenchidas de aguardente e oferecidas ao público que visitou a instalação.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Iconologia do ebó - parte 5

Série de postagens explorando a iconografia dos ebós apresentados na instalação "Reconstruindo Exu".

Foto de Danilo Menezes.

1- Caminhos
Exu é uma entidade associada à ideia de caminhos e passagens. Como responsável pela comunicação, faz sentido que cuide para que a informação chegue sempre ao seu destino.  Na umbanda muitos dos nomes dos exus confirmam o caráter do encontro, passagem, transposição e percurso: Exu 7 Encruzilhadas, Exu Tranca Rua, Exu Porteira, Exu 7 Estradas, Exu Destranca Rua etc. As correntes, chaves e cadeados são signos que carregam a tanto a ideia de impedimento e proibição em um percurso como a autorização e a exclusividade, o privilégio da passagem. Para a composição deste ebó foi pedido que as pessoas ofertassem chaves, correntes e cadeados, em uma ação simbólica para se desfazerem de quaisquer impedimentos no trajeto em direção aos seus objetivos.

Foto de Danilo Menezes.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Iconologia do ebó - parte 4

Série de postagens explorando a iconografia dos ebós apresentados na instalação "Reconstruindo Exu".


Foto de Danilo Menezes.

1- Sexualidade e fertilidade
O instrumento mágico de Exu é o ogó, um bastão em formato fálico que representa a sexualidade e a o poder da fertilidade. A fertilidade e o prazer não estão associados somente ao ato sexual, mas a qualquer ato criador, incluindo as manifestações artísticas. Neste ebó evidencia-se esse aspecto apresentando um falo de borracha como um ogó contemporâneo e em um arranjo de pimentas, ingrediente fundamental em oferendas a Exu, que no senso comum está associado ao prazer do ato sexual.

Foto de Danilo Menezes.

domingo, 15 de setembro de 2013

Iconologia do ebó - parte 3

Série de postagens explorando a iconografia dos ebós apresentados na instalação "Reconstruindo Exu".

Foto de Danilo Menezes.

1- Comunicação
Exu é o orixá da comunicação. Intermediário entre os homens e os outros orixás, é dele a responsabilidade de transmitir as mensagens aos destinatários e fazer com que sejam bem compreendidas. A hiper-conectividade como característica da sociedade contemporânea nos apresenta uma série de dispositivos que ampliam a capacidade de comunicação entre os indivíduos. Ao mesmo tempo que não encontramos barreiras que impeçam a comunicação, tornamo-nos muitas vezes redundantes e superficiais. O aparelho de celular é apresentado como ícone deste modelo comunicacional contemporâneo, o modelo da comunicação imediata, mediada pelo dispositivo eletrônico, mas que pode ser esvaziado no conteúdo.

Foto de Danilo Menezes.

2- Farofa
Uma das comidas de Exu é a farofa, em geral preparada com aguardente e dendê. Mas a palavra "farofa" pode ser sinônimo de algo interferente. Segundo Leo Marcos José da Silva, no artigo A gíria como participante do falar brasileiro, o termo pode ser usado para designar uma pessoa que acompanha uma moça e atrapalha ou impede o galanteio, ou ainda como sinônimo de confusão, falatório ou muvuca. A farofa guarda vários aparelhos celulares, atentando para os aspectos da comunicação em tempos de hiper-conectividade.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Iconologia do ebó - parte 2

Série de postagens explorando a iconografia dos ebós apresentados na instalação "Reconstruindo Exu".

Foto de Danilo Menezes.

1- Garfo de ferro
O garfo de ferro é uma ferramenta usada nos trabalhos dedicados ao assentamento de Exu. O assentamento trata de criar um ponto físico, permanente ou não, que delimita o espaço de manifestação daquela entidade. É a criação de um espaço sagrado em meio ao espaço profano.

Foto de Danilo Menezes.

2- Guias
Guias são colares usados pelos adeptos dos cultos de matriz africana. Amuletos poderosos, capazes de canalizar energias sobrenaturais, protegendo os médiuns. As diferentes cores e tamanhos referem não só a um orixá ou entidade, mas também a relação mantida pelo adepto. De certa forma, a guia é como uma aliança, não rígida e estrita, exigente de fidelidade, mas íntima e fluida, símbolo de uma conexão espiritual. As guias podem mudar de forma e tamanho segundo a intuição do iniciado.
Tanto a guia como o garfo de ferro são símbolos de ligação entre o homem e o mundo físico com o sobrenatural.

Iconologia do ebó - parte 1

Série de postagens explorando a iconografia dos ebós apresentados na instalação "Reconstruindo Exu".

Foto de Danilo Menezes.

1 - Velas e fogo
Na tradição do candomblé cada orixá está intimamente conectado a elementos da natureza. Um dos elementos associados a Exu é o fogo. No sincretismo da umbanda e na visão cristianizada de Exu com a simbologia infernal essa associação ganha contornos mais destacados. As velas carregam as cores de exu na umbanda: preto e vermelho. Vale dizer que existem velas com inúmeros formatos, convenientes ao tipo de trabalho que se está realizando. São muitas as velas específicas para os trabalhos de esquerda, com o formato de exus ou partes do corpo humano ou propriedades materiais, como casas e carros.

Foto de Leopoldo Tauffenbach.

2- Santo Antônio
Na umbanda, o orixá Exu é sincretizado com Santo Antônio. Aqui uma pequena imagem aparece sobre uma caixa de pó cruzado - pó especial para a realização de trabalhos mágicos - onde se lê "EXU". A imagem está no meio de outras duas caixas com os dizeres "ABRE CAMINHOS" e "DESPACHO".

Foto de Leopoldo Tauffenbach.

3- Guardiões
Nas palavras de Reginaldo Prandi, Exu "é também o guardião da porta da rua e o dono das encruzilhadas". Isso explica a presença de imagens de exus nas entradas dos terreiros e das lojas de artigos religiosos. As duas velas em forma de exus fazem referência a esta função atribuída à entidade.

sábado, 7 de setembro de 2013

Contra Exu

"Exu" - escultura de Tamba. Sem data.

Na Universal, vale quase tudo para "despertar a fé das pessoas", ou para convencê-las de que a igreja prega um Evangelho de poder, que, além de verdadeiro, "funciona" na prática. As "sessões espirituais de descarrego", criadas no limiar do novo milênio, constituem um de seus mais recentes e populares experimentos sincréticos. Como se pode perceber, não se trata propriamente de culto a Deus, mas de "sessão" dedicada à imprecação de encostos ou demônios que insistem em "encostar-se" nos adeptos e na clientela da Universal. [...]
Apesar de a imagem genérica em torno do sincretismo remeter-se comumente a uma suposta e tradicional tolerância religiosa dos brasileiros, a opção sincrética da Universal, cumpre frisar, não a levou a suprimir seus rompantes de intolerância nem sua notória hostilidade aos cultos afro-brasileiros. Daí uma das principais razões de seu envolvimento em diversos incidentes e conflitos religiosos ao longo dos anos.

Trecho do artigo Expansão pentecostal no Brasil: o caso da Igreja Universal, de Ricardo Mariano.  Estudos Avançados.  São Paulo,  v. 18, n. 52, 2004.


Os exus [...] são espíritos malignos sem corpo, ansiando por achar um meio para se expressarem neste mundo, não podendo fazê-lo antes de possuírem um corpo. Por isso, procuram o corpo humano, dada a perfeição de funcionamento dos seus sentidos. Existem casos em que por força das circunstâncias eles chegam a possuir animais para cumprir seus intentos perversos.

Trecho do livro Orixás, caboclos e guias: deuses ou demonios?, de Edir Macedo. Rio de Janeiro: Unipro, 2012.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Exu e a malandragem

"Exu" - obra de Kboco, circa 2002.
Para nossa cultura, a instauração da incerteza causa a insegurança que é associada à fragilidade. Na realidade, a ordem, a certeza, parece que nos trazem a segurança, a estabilidade. Sendo assim, quando nos deparamos com um símbolo como Exu, que carrega consigo a ambiguidade, a constante presença de ruídos, a desestabilidade e a presença de uma fraqueza da consciência, que o remete ao horizonte da loucura, percebemos o quanto ele desconcerta o pensamento que está relacionado à ordem e a uma verdade única.
[...]
Podemos então, em uma analogia, pensar que o compadre e as pombagiras também fazem parte do caráter do povo brasileiro. Detentores da ginga, do malemolejo ao falar, do jogo de cintura, essas entidades encantam os que as procuram por transitarem entre a ordem estabelecida e as condutas transgressivas.
E se a transgressão passou a ser um elemento constituinte da identidade de alguns grupos sociais no Brasil, quando os compadres e pombagiras despontam, há uma identificação de parte do povo com essa marginália sobrevivente e admirada por ser vitoriosa na luta pela vida.

Trechos retirados do artigo Quem não tem governo nem nunca terá: Exu e o jeitinho brasileiro, de Ivete Miranda Previtalli. Revista Verve, n.16. São Paulo: PUCSP, 2009.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Quadrinhos de Exu

Capa da história em quadrinhos "Zeladores", de Nathan Cornes e Anderson Almeida,
que traz o exu Zé Pilintra como personagem principal.

Zeladores é uma história em quadrinhos de ficção que propõe uma nova roupagem para as lendas e personalidades folclóricas brasileiras. Trazendo os mitos para o nosso tempo e os colocando no contexto urbano de São Paolo – cidade fictícia baseada na capital paulista – Zeladores brinca com o reconhecimento de lugares e eventos reais em meio a acontecimentos bombásticos. Não se trata de heróis uniformizados com roupas colantes e coloridas; no caso de Zeladores, o protagonista é um dos personagens mais carismáticos do folclore brasileiro: Zé Pilintra. Malandro, afrodescendente, habitante da noite e da boemia, é o mais humano dos seres do imaginário popular brasileiro. Acompanhado pelo melhor amigo – Opala 78, detetive paranormal – Zé Pilintra protege São Paolo de ameaças mágicas, agindo como um xerife do além. Neste número de Zeladores, ele enfrenta uma banda funk, reencontra o homem que o matou e visita a Caroxinha, o Barbarruiva e a Mulher de Branco, antes de ser invocado por uma bruxa e o Lobisomem verde dela. Isso tudo no primeiro terço da história.

Texto publicado no site HQ Maniacs em 15/09/2010. Disponível em: <http://hqmaniacs.uol.com.br/principal.asp?acao=noticias&cod_noticia=27240>.

A ideia de trabalhar com Pilintra nasceu quando eu estava trabalhando em uma empresa de produção cinematográfica. Meu trabalho era desenvolver conceitos para algumas séries de animação e, naquela época, estava procurando uma maneira de criar um grupo de super-heróis que tiveram uma forte base no folclore popular. Na fase de pesquisa desses personagens, eu e a equipe de desenvolvimento da produtora nos deparamos com um sem número de lendas e causos onde o sobrenatural atuava como um inimigo onipresente, impondo limites à curiosidade e ambição infinita do homem comum. Dada a natureza desses causos, de esmagadora maioria um tanto escuras e punitivas, alguns personagens se destacaram por seu contraste brutal. Pilintra era um desses. Eu tinha ido a alguns centros de Umbanda na vida, conhecia o Catimbó de vista, porque minha avó trouxe com ela o que aprendeu na juventude do nordeste, mas foi só quando estava engajado na pesquisa que pude conhecer um pouco mais do personagem e me apaixonei completamente pelas suas histórias, pelo seu universo. Do ponto de vista da criação de personagens, um verdadeiro achado. Era humano e, ao mesmo tempo, compartilhava algumas características divinas, transitando entre o mundo dos mortos e dos vivos, supostamente imortal e onipresente, capaz de ajudar quem precisasse em vários terreiros do país ou do planeta simultaneamente, bastando para isso riscar o seu ponto. Ele era um super-herói. Em 2009, a Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo abriu as inscrições para o PROAC HQ, que contemplava projetos de desenvolvimento de histórias em quadrinhos. Pensei que essa seria uma grande oportunidade para o projeto. Foi num papo com o Nathan, tentando explicar como estava difícil encontrar um caminho para a história que acabei pedindo sua ajuda e ele concordou em escrever o roteiro da HQ. Nathan Cornes é um dos maiores escritores que já tive o prazer de conhecer. Ele trabalhou com séries de animação, é muito rápido e o fato de termos trabalhado juntos em outros projetos e do cara ser um dos meus melhores amigos fez com que o trabalho começasse a decolar. Por decolar, diga-se um completo redesenho do projeto excluindo toda a parte religiosa e criando um universo contemporâneo, mais dinâmico e cartunesco para abrigar os personagens, todos releituras de lendas brasileiras. A partir desse momento, onde o Nathan escrevia como quem psicografa e eu desenhava como uma impressora a laser, posso dizer que dava pra sentir o Pilintra com a gente, entre uma chachaça e outra, sensação que se repetiu com cada vez mais frequência até a conclusão do projeto e seu lançamento, em 2010. A HQ ficou muito bacana e é um trabalho que me sinto horado de ter desenvolvido junto com o Nathan.


Depoimento de Anderson Almeida especialmente para o projeto Reconstruindo Exu.

Zeladores é um projeto de autoria de Nathan Cornes e Anderson Almeida. Abaixo estão algumas páginas da história, cuja versão completa pode ser lida no site oficial do projeto Zeladores: <http://www.zeladores.net/>.




Santinho de Zé Pilintra produzido por ocasião do lançamento da HQ "Zeladores".

sábado, 3 de agosto de 2013

Ogó de Exu


"Exu" - fotografia de Bauer Sá
Ogó é o nome dado ao instrumento de Exu, um bastão de formato fálico feito de madeira e cabaças que imitam a anatomia do pênis e guarda imensos poderes. O ogó simboliza o poder de criação capaz de perpetuar a vida. O trecho de texto abaixo foi retirado do blog Candomblé - o mundo dos orixás, e trata de um duelo entre Ossaim e Exu, que usa os poderes de seu ogó na peleja.

[...]
E então marcam um duelo.
Assim Osányìn foi consultar seus adivinhos temendo a morte. Os adivinhos dizem para Osányìn fazer ebo e não enfrentar Èsù, pois ele é um homem muito forte. Osányìn retruca dizendo:
- Imagine se por causa de Èsù, eu farei ebo, pois Èsù só possui sabedoria e não força! Eu sou poderoso, pois sou o grande mago e poderoso feiticeiro!
E lá se foi Osányìn ter o encontro com Èsù, na oritá (encruzilhada de três pontas). Chegando lá, Èsù diz:
- Você, Osányìn, não sabe que uma pessoa que tentaram matar na vida e não conseguiram, sou eu e somente eu mato e mando para o mundo dos mortos?
Dai então começaram a trocar provocações, cada um dizendo que era mais forte do que outro. Então Èsù diz:
- Se você Osányìn, realmente é forte, teste seu àse.
Mas foi Èsù quem primeiro testou seu àse, dizendo:
- Se eu empurrar essa árvore, ela cairá sobre você!
Èsù empurra a árvore, Osányìn consegue sair fora para não ser atingido. Èsù diz:
- Se eu encostar meu Ogó em você, você será queimado!
Èsù encostou e Osányìn não queimou, só saiu fumaça. Osányìn diz:
- Èsù, o que você viu são minhas proteções, razão pela qual você não consegue me fazer mal.
Èsù fica mais irritado e diz:
- Osányìn, com essa minha bengala (Ogó - bastão de Èsù), se eu bater no chão, vai brotar água e lhe cercar.
E assim Èsù fez e a água começou a cercar Osányìn. Mesmo vendo que a força de Èsú era maior que a sua Osányìn entra em luta corporal com Èsù. Depois de algum tempo, Osányìn percebe que não iria vencer Èsù e então implora a Èsù que pare a luta e que o desculpe. Èsù diz que não lhe desculpa, pois Osányìn havia lhe desrespeitado. Èsù então lança mão de seu Ogó e golpeia a perna de Osányìn, que fica quebrada. Então Èsù diz:
- Se eu lhe matar agora, você nunca saberá o valor de minha força, porém eu lhe castigarei.
Pega o Ogó novamente e golpeia a cabeça de Osányìn, o qual perde a fala depois da pancada. Osányìn se levanta, sai correndo e vai ter com seus adivinhos, para ver se encontrava alívio para o seu sofrimento. Ele queria ser curado. Eles lhe dizem:
- Você foi brigar com Èsù Òdàrà, que é mais forte do que você, você não sabia que ele é o líder dos òrìsà? Não há nenhuma divindade que desafie Èsù. Em razão desse desafio à Èsù, nada podemos fazer.
[...]

Texto completo disponível em: <http://ocandomble.wordpress.com/2013/05/27/o-poder-da-palavra/>.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Exu por Chico Tabibuia


O artista Chico Tabibuia ao lado de sua escultura "Exu".
<http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa21764/chico-tabibuia>


 Ora, ao retratar o sobrenatural Exu, sob as suas mais diversas formas, inclusive sob a dualidade masculino/feminino, Tabibuia estaria assumindo um papel de pessoa já externa à religião da umbanda. Com a possível contradição - tão comum na arte e na vida - de não ter abandonado em profundidade as crenças relativas a ela, já que atribui às esculturas um papel quase votivo e sem dúvida exorcizador dos dissabores causados por Exu, que ele agora identifica Lúcifer. Legitimado pela religião evangélica para a retratação do orixá, não mais transgressor porque livre da interdição do mistério, por outro lado Tabibuia declara que, ao representar os exus, faz com que fiquem aprisionados na escultura, "para não fazerem mais mal ao povo", ficando cada vez mais "fugidos das matas", onde poderiam atuar em liberdade.
Ficam patentes nessas suas palavras, e na sua obra realizada, as grandes energias que envolvem a um tempo concentração, prazer e sofrimento, mobilizadas pelo escultor em seu trabalho, ao transformar uma força natural em forma viva, porque criativa.



Trecho do prefácio de Lélia Coelho Frota para o livro A escultura mágico-erótica de Chico Tabibuia, de Paulo Pardal. 

"Exu" - 1980

"Exu hermafrodita" - 1996

"Família de Exus" - 1996
  
"Exu bissexual" - 2004
"Exu" - 2004

domingo, 21 de julho de 2013

Reconstruindo Exu na Casa das Caldeiras


Dos dias 14 a 23 de julho a exposição Tempo Forte, na Casa das Caldeiras, em São Paulo, apresentou os trabalhos dos artistas atualmente em residência. Nesta ocasião foi apresentada a instalação "Reconstruindo Exu", uma obra poética que sintetiza alguns dos resultados obtidos durante a pesquisa registrada neste blog.
Abaixo estão algumas fotos da instalação. Mais imagens podem ser vistas no álbum "Reconstruindo Exu", no Flickr: <http://www.flickr.com/photos/tauffenbach/sets/72157634745199568/>.